A perceção da corrupção é importante para os investidores?

4 min par ler 25 abr 24

Queira consultar o glossário para uma explicação sobre os termos de investimento utilizados ao longo deste artigo.

Este ano, quase metade da população mundial será chamada às urnas. Nesse sentido, vamos analisar de perto as tendências sobre a perceção da corrupção e explicar por que motivo são importantes para os investidores.

Todos os investidores estão cientes de que este ano quase metade da população mundial será chamada às urnas, sendo que algumas dessas eleições deverão alterar significativamente a trajetória de alguns países. Tendo isto em mente, a pergunta que fazemos é: as tendências sobre a perceção da corrupção são importantes para os investidores?

Seja o impacto transformador da política de reforma e abertura da China em 1978 seja as ondas de choque das políticas do mercado da habitação dos EUA no início dos anos 2000, as políticas e os regulamentos governamentais influenciam o crescimento económico, as condições de mercado e o ambiente de negócios geral de um país. A boa governação, caracterizada por um contexto institucional estável e políticas e regulamentos eficazes, é a pedra basilar de uma economia robusta. A governação, incluindo a corrupção, é tradicionalmente vista como o fator ESG mais importante.

A Transparency International publicou o seu Índice de Perceção da Corrupção (CPI) anual a 31 de janeiro de 2024. Com base em inquéritos a especialistas e empresários, o CPI atribui pontuações e classifica os países com base no nível percecionado de corrupção nos respetivos setores públicos. Utiliza uma escala de 0 (percecionado como “altamente corrupto”) até 100 (percecionado como “muito limpo”). 

O conhecimento sobre o nível de perceção da corrupção pode fornecer uma perspetiva inestimável sobre a governação dos emitentes soberanos, o que pode ter consequências significativas para as suas notações de crédito. Além disso, é essencial monitorizar as tendências da corrupção para avaliar a credibilidade e transparência das instituições. O Fundo Monetário Internacional (FMI) assinalou que a crescente corrupção pode afetar adversamente as receitas do Estado, uma tendência observada tanto em economias emergentes como em economias desenvolvidas1.  

A corrupção também pode afetar negativamente, entre outras coisas, o nível de educação ou a eficácia das despesas sociais, o que, por seu turno, influencia o potencial de crescimento a longo prazo de um país e poderá refletir-se em custos de capital mais elevados. Por último, o aumento da corrupção e dos subornos pode assustar os investidores devido à incerteza associada à obtenção de licenças e autorizações. Além disso, pode desincentivar os investidores estrangeiros devido aos maiores riscos e incertezas. As estimativas recentes da Transparency International revelam uma série de tendências que importa analisar mais ao pormenor.

Principais tendências de perceção da corrupção a nível mundial

Os países da Europa do norte e central, juntamente com a Nova Zelândia e Singapura, ocupam predominantemente as 10 posições cimeiras da lista. Contudo, ao longo da última década, observa-se um pequeno aumento da perceção da corrupção na maioria destes países. 

Se tivermos em conta a tendência a 5 anos, nos 10 últimos lugares estão mercados desenvolvidos como a Islândia, a Áustria e o Reino Unido, assim como mercados emergentes e mercados fronteira, como a Indonésia, Argentina e Omã. De notar o preocupante aumento da perceção da corrupção no Azerbaijão ao longo dos últimos 5 anos, com a sua pontuação a cair abruptamente no quartil inferior a nível mundial. A Nicarágua e a Síria destacam-se como as nações mais corruptas, tendo perdido mais de 10 pontos nos últimos 5 anos.

Entretanto, a Moldávia, as Maldivas e o Usbequistão registaram as maiores subidas na perceção da corrupção, embora as suas pontuações continuem relativamente baixas. A melhoria da Ucrânia está em linha com os requisitos de adesão à UE, mas a sua pontuação ainda é baixa de acordo com os padrões europeus. Em geral, a maioria dos 10 países que registaram mais melhorias tem pontuações relativamente baixas, exceto as Barbados e Cabo Verde, onde a perceção da corrupção é menos significante por comparação com grande parte dos mercados emergentes e mercados fronteira. 

Destaque para o Usbequistão

Analisando a tendência a 10 anos, O Usbequistão destaca-se como o único país que melhorou a sua perceção da corrupção tanto a 5 anos como a 10 anos. 

O Usbequistão assinalou progressos consideráveis no combate à corrupção sob a liderança do presidente Shavkat Mirziyoyev. O governo criou um organismo anticorrupção e aprovou medidas legislativas, incluindo a Estratégia de Ação Nacional para Cinco Áreas de Desenvolvimento Prioritárias e a Lei de Combate à Corrupção.

Não obstante as melhorias nas dimensões de Estado de direito, estabilidade política e corrupção, a governação do Usbequistão subsiste frágil, tal como confirmado pela Freedom House, que descreve o país como “um Estado autoritário com poucos sinais de democratização”2. A Freedom House também reconhece uma redução na corrupção de pequena escala, mas assinala que a corrupção política e os subornos continuam a ser práticas generalizadas3. A grande população jovem e o aumento da cobertura da Internet no Usbequistão conduziram a uma explosão das redes sociais como a Odnoklassniki, o Facebook e o Telegram. Estas plataformas facilitam a discussão sobre a corrupção, o que pode aumentar a pressão sobre o governo para intensificar os esforços de combate à corrupção.

A perceção da corrupção afeta as notações de crédito soberano?

Vale a pena comparar as pontuações da perceção da corrupção com as notações de crédito soberano uma vez que as primeiras podem afetar estas últimas. Curiosamente, países como o Paraguai, Guatemala, Tailândia, Indonésia e Azerbaijão apresentam um desvio negativo, mostrando uma má perceção da corrupção, mas notações de crédito soberano que não são baixas. Ainda que não haja necessariamente uma correlação direta, na medida em que há outros fatores que também influenciam as notações de crédito soberano, é uma observação que vale a pena constatar.

1 Fundo Monetário Internacional (FMI), “IMF Survey: Fighting Corruption Critical for Growth and Macroeconomic Stability—IMF Paper”, (imf.org), setembro de 2019.
2 Freedom House, “Uzbekistan”, (freedomhouse.org).
3 Freedom House, “Uzbekistan”, (freedomhouse.org).
Por M&G Investments

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