Eleições nos EUA: como Biden e Trump podem afetar os mercados

6 min par ler 19 abr 24

Queira consultar o glossário para uma explicação sobre os termos de investimento utilizados ao longo deste artigo.

Ainda faltam alguns meses para as eleições nos EUA, em novembro de 2024, mas com os candidatos presidenciais já definidos, começamos a refletir sobre os possíveis resultados e implicações para o mercado. Tendo em conta as acentuadas divergências políticas entre os dois partidos, o desfecho das eleições poderá ter profundas consequências na política, na economia e no mercado, mas tal também dependerá da margem de vitória do futuro presidente. Estas são as nossas perspetivas e aquilo a que estamos atentos.

É expectável uma avalancha de legislação em 2025

Na última década, os presidentes apressaram-se a promulgar as suas principais políticas no início dos seus mandatos. Tal deve-se ao facto de haver o risco de mudança na Câmara dos Representantes e no Senado nas eleições intercalares dois anos mais tarde. Além disso, os partidos políticos tendem a parar os trabalhos para a aprovação de legislação ou novas nomeações na antecâmara das eleições. Por exemplo, a importante política de cortes fiscais de Donald Trump foi aplicada em 2017 e traduziu-se numa redução de 35% para 21% do imposto sobre os lucros das empresas. A legislação relativa às infraestruturas lançada pelo presidente Joseph Biden entrou em vigor em 2021 e a Lei de Redução da Inflação em 2022. Estes são exemplos de políticas marcantes que influenciaram a economia dos EUA e os mercados. 

O que é que isto significa? Há uma fresta para ser aprovada legislação nos EUA. Independentemente de quem vencer as eleições, antecipamos uma avalancha de nova legislação em 2025 e prevemos que ambos os candidatos continuem a gastar e a contrair empréstimos.

Se Biden for reeleito

Uma vitória de Biden deverá reforçar o atual programa “The American Jobs Plan”, que se centra no investimento em infraestruturas, transportes e indústria, acompanhado de um enfoque na construção de alianças no estrangeiro.

A regulamentação das empresas tecnológicas e da inteligência artificial poderá ser uma nova área prioritária. Até ao momento, por comparação com os EUA, a União Europeia tem estado a tomar mais medidas para regulamentar as empresas tecnológicas. Antecipamos esta mudança à medida que a inteligência artificial afeta cada vez mais quadrantes da sociedade. Aliás a capacidade de criar vídeos, imagens e vozes fraudulentas pode ter um impacto profundo até mesmo nas eleições. 

A imigração também deverá ser um tema no topo da agenda dado que se trata de uma importante questão política. Recentemente, Biden negociou um acordo sobre a imigração com o Senado dos EUA. Contudo, a Câmara dos Representantes rejeitou apreciá-lo alegando que se está demasiado próximo de uma eleição. Se a Câmara dos Representantes não tomar uma posição relativamente à proposta atual, Biden quererá voltar a este tema o mais rapidamente no início do próximo mandato.

Se Trump triunfar

Se Trump vencer as eleições, antecipamos grandes cortes fiscais para as empresas e os particulares. É provável que o setor imobiliário beneficie amplamente, uma vez que tal está alinhado com os interesses empresariais pessoais de Trump. A redução dos impostos sobre as empresas iria impulsionar os lucros das mesmas, pelo que se poderá esperar uma valorização inicial das ações. O poder de compra dos consumidores também iria subir. Contudo, a longo prazo, tal poderia conduzir a um aumento da inflação. 

Trump não escondeu o seu desdém por taxas de juros mais elevadas. Não é uma surpresa uma vez que taxas de juros mais elevadas criam um ambiente mais difícil para os promotores imobiliários. O mandato de Jerome Powell enquanto presidente da Reserva Federal dos EUA termina em 2026 e o próximo Presidente dos EUA terá de nomear um sucessor. Trump poderá substituir Powel por alguém mais inclinado a reduzir as taxas de juros. Se Trump conseguir nomear várias pessoas para o conselho da Reserva Federal dispostas a seguirem as suas instruçõesTrump, há o risco a mais longo prazo da política monetária da Reserva Federal deixar de ser 100% independente. Um cenário no qual o mercado perde confiança na política monetária dos EUA constitui o maior risco para os mercados financeiros. No curto prazo, as taxas de juros poderão descer, mas se forem acompanhadas por cortes fiscais tal poderá resultar na subida da inflação a longo prazo.

Com Trump na presidência a política externa dos EUA também iria mudar, sendo provável que os Estados Unidos se distanciassem da diplomacia internacional. Algumas leis foram alteradas para impedir que Trump tire os EUA da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma organização de defesa conjunta criada após a 2.ª Guerra Mundial. Contudo Trump poderá condicionar os trabalhos da organização através de outros meios, por exemplo, não concedendo financiamento ou não nomeando representantes para interagir com a organização. Com o conflito em curso entre a Ucrânia e a Rússia, tal colocaria a Europa numa posição mais fragilizada. 

O que é que isto significa para os investidores?

Os mercados tendem a não prestar muito atenção ao ruído das eleições, esperando antes pelo desfecho da ida às urnas. A economia dos EUA encontra-se numa situação robusta como resultado de quatro anos de despesas e investimentos. É, cada vez mais, uma economia isolada e autossuficiente. Não mudámos a nossa abordagem de investimento devido às próximas eleições. Se Trump ganhar as eleições, antecipamos uma maior volatilidade e imprevisibilidade. Mas mesmo que Biden seja reeleito para um segundo mandato prevemos um ambiente volátil. 

Contudo, também há um eventual ponto positivo. Nos últimos tempos, tem se verificado uma maior divergência nas economias, mais concretamente no que toca ao crescimento económico e à inflação. Se esta tendência persistir, poderá ser mais fácil assegurar a diversificação das carteiras.

O valor dos investimentos irá flutuar, o que fará com que os preços diminuam e aumentem. Poderá não recuperar o montante inicialmente investido. As opiniões expressas neste documento não devem ser consideradas como sendo uma recomendação, conselho ou previsão. Não nos é possível dar conselhos financeiros. Caso tenha qualquer dúvida sobre a adequação do seu investimento, deverá falar com o seu consultor financeiro.

Por Shanti Kelemen, Chief Investment Officer M&G Wealth

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