ODS em destaque: melhorar a igualdade de género

4 min par ler 13 fev 24

Queira consultar o glossário  para uma explicação sobre os termos de investimento utilizados ao longo deste artigo.

O investimento onde o capital escasseia, designadamente em mercados em desenvolvimento, contribui para resolver os problemas mais prementes da atualidade. O género é uma questão transversal – os progressos neste domínio estão interligados com todos os outros resultados em matéria de desenvolvimento sustentável. Os investidores podem e desempenham um papel na promoção de uma maior igualdade de género nos mercados em desenvolvimento por via de três temas de investimento: inclusão financeira, agricultura sustentável e acesso a energia.

O que são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas?

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas são um conjunto de 17 objetivos interligados que, coletivamente, constituem um roteiro para a paz e a prosperidade para as pessoas e o planeta, tanto no presente quanto no futuro. Os objetivos que têm de ser concretizados até 2030 abrangem vários domínios, entre os quais, melhorar a saúde, reduzir as desigualdades, combater as alterações climáticas e conservar os nossos oceanos e florestas.

Natureza interligada

É indiscutível que todos os desafios em matéria de desenvolvimento sustentável à escala mundial – desde a inclusão financeira até ao risco das alterações climáticas – apresentam resultados que são piores para as mulheres. Devido à sua natureza, os ODS estão interligados na medida em que os progressos num domínio exigem avanços nos outros. E ainda que o ODS 5 faça referência explícita à igualdade de género, o tema do género é comum a todos os objetivos. Por conseguinte, não podemos esperar atingir os ODS sem combater sistematicamente a desigualdade de género.

O estado atual

Não obstante os progressos registados, ainda estamos muito longe de alcançar a igualdade de género à escala global. De momento, estamos a caminho de atingir apenas 15,4% dos indicadores para o ODS 5 (igualdade de género) até 2030, ao passo que 23,1% estão longe ou muito longe de serem cumpridos1.  De facto, ao ritmo atual, prevê-se que serão necessários mais 131 anos para eliminar a desigualdade de género a nível mundial2

“Ao ritmo atual, prevê-se que serão necessários mais 131 anos para eliminar a desigualdade de género a nível mundial.”

 

O ponto da situação atual varia significativamente entre regiões, com a Europa na linha da frente para alcançar a paridade de género. Há muito mais por fazer em grande parte do mundo em desenvolvimento – o Médio Oriente e o Norte de África, seguidas pela Ásia do Sul, foram as regiões que registaram menos progressos3.  

Existem diferenças consideráveis quando consideramos diferentes aspetos da igualdade de género. Por exemplo, a igualdade no domínio do sucesso escolar tem apresentado uma tendência ascendente nas últimas décadas. Globalmente, 91% das meninas frequentam o ensino primário por comparação com 93% dos meninos. Quando chegam ao ensino secundário, as meninas superam os meninos (54% por comparação com 52%)4. Os resultados de saúde melhoraram, com as agências internacionais de desenvolvimento a terem mais capacidade para intervir e prestar apoio diretamente. 

Contudo, são necessários maiores progressos no que toca ao empoderamento económico das mulheres. A nível global, menos de metade das mulheres em idade ativa participam na força de trabalho. Mas, uma vez mais, há diferenças regionais, desde 60,9% na África Subsariana até 18,8% no Norte de África e no Médio Oriente5

Figura 1: A taxa de participação feminina na força de trabalho varia em todo o mundo

Fonte: Organização Internacional do Trabalho (OIT). Dados obtidos a partir do Portal de Dados de Género do Banco Mundial (SL.TLF.ACTI.ZS), em novembro de 2023.

A oportunidade para os investidores

O combate à desigualdade de género oferece muitas oportunidades para incentivar resultados em matéria de desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, gerar retorno financeiro. Graças aos avanços em matéria de educação, existe atualmente um número sem precedentes de jovens mulheres instruídas – com rendimento disponível – prontas a entrar no mercado de trabalho. Um estudo da Moody’s sugere que a erradicação da desigualdade de género no local de trabalho poderia acrescentar, anualmente, 7 biliões de USD ao PIB mundial6. As empresas com uma forte representação feminina também têm mais 25% de probabilidades de ter um melhor desempenho financeiro do que as suas homólogas menos diversas7.  

Alguns aspetos dos desafios em matéria de género requerem mudanças culturais e políticas, mas ainda assim os investidores podem desempenhar um papel significante na promoção de melhores resultados. Por exemplo, ao apoiarem modelos de negócio que fornecem soluções tendo em vista o empoderamento das mulheres, em especial no que toca o acesso a serviços essenciais.

Outra abordagem passa por trabalhar com as empresas beneficiárias do investimento – independentemente se têm como meta algum resultado específico relacionado com o género – para garantir que instituem políticas e procedimentos adequados, por exemplo, em áreas como o combate ao assédio, a licença parental e promoções justas.

Figura 2: Há menos mulheres empresárias nos mercados em desenvolvimento

Fonte: Inquéritos às Empresas do Banco Mundial, novembro de 2023.

Financiamento de mulheres empresárias

Nos mercados em desenvolvimento, uma opção para os investidores que procuram criar condições equitativas ao nível do género é apoiar empresas que providenciam financiamento a mulheres empreendedoras e empresárias, assim como reduzir a desigualdade de género na inclusão financeira em geral. Devido às barreiras culturais e até mesmo jurídicas, as mulheres participam consideravelmente menos do que os homens no emprego formal em muitos mercados desenvolvidos. Por outro lado, as mulheres que criam a sua própria empresa deparam-se frequentemente com mais dificuldades em aceder a crédito do que os homens, em parte porque as mulheres muitas vezes não dispõem de garantias, como posse de terras. No âmbito do modelo de microfinanciamento “clássico”, as instituições financeiras pretendem superar este problema por via da prática de concessão de empréstimos a grupos.

O que é a concessão de empréstimos a grupos?

  • A concessão de empréstimos a grupos implica emprestar dinheiro a um grupo de pessoas, como mulheres empreendedoras numa aldeia rural.
  • As garantias físicas são substituídas por “garantias sociais”. Por outras palavras, os membros do grupo são auto-selecionados e são mutuamente responsáveis pelos pagamentos de cada um, logo incentivando o reembolso atempado dos empréstimos.
  • Assim, as mulheres têm a oportunidade de superar as barreiras culturais e obter financiamento para iniciar ou expandir o seu negócio.

Oportunidades na agricultura

As mulheres rurais representam quase metade da força de trabalho agrícola à escala mundial, ao passo que representam menos de 20% dos proprietários agrícolas8. São frequentemente impedidas de possuir terras devido a crédito insuficiente, desigualdade salarial, baixos níveis de poder de tomada de decisão, violência de género ou regras de heranças desiguais entre os homens e as mulheres. Aquelas que de facto possuem terras agrícolas são impedidas, de forma desproporcionada, de aceder a financiamento e insumos essenciais, incluindo fertilizantes e pesticidas. 

Contudo, os investidores podem incentivar uma mudança positiva apoiando, de variadíssimas formas, pequenas explorações agrícolas lideradas por mulheres. Por exemplo, podem providenciar financiamento direto a agricultoras, prestar serviços de formação e ensino, muni-las de tecnologia ou apoiar empresas que promovem salários justos para o setor da agricultura.

Acesso a energia

Devido à falta de uma rede elétrica fiável, estima-se que cerca de 52% das populações rurais em todo o mundo dependam de tecnologias poluentes, como lâmpadas de querosene e geradores alimentados a combustíveis fósseis, para satisfazer as necessidades de iluminação doméstica e energia9. A poluição do ar interior emitida por estes aparelhos é responsável por 3,2 milhões de mortes prematuras e a perda de 86 milhões de anos de vida saudável, anualmente10, sendo que o maior fardo recai sobre as mulheres e as meninas, porque são as que passam mais tempo dentro e perto de casa. 

“As mulheres e as crianças podem evitar os problemas de saúde associados à poluição do ar interior, com maiores oportunidades para atividades de saúde e desenvolvimento pessoal, como estudar ou criar um negócio.”
 

Se não houver ação política suficiente, 1,9 mil milhões de pessoas ainda não terão acesso a combustíveis e tecnologias limpas em 2030, a maioria das quais residirá na África Subsariana11. Contudo, os investidores podem contribuir de forma positiva neste domínio, apoiando empresas que fornecem sistemas de energia solar residencial fora da rede, que substituem geradores e lâmpadas alimentadas a combustíveis fósseis. Os sistemas consistem num painel solar instalado no telhado, que está ligado à iluminação e a uma tomada e, muitas vezes, é vendido aos proprietários das casas no quadro de acordos de financiamento plurianuais para ser mais acessível em termos económicos. 

As vantagens destes sistemas são enormes. Em primeiro lugar, as mulheres e as crianças podem evitar os problemas de saúde associados à poluição do ar interior. Com acesso a energia limpa e fiável – e menos tempo despendido na recolha e preparação dos combustíveis – as mulheres e as crianças têm mais possibilidade de realizar atividades de saúde e desenvolvimento pessoal, como estudar à noite ou criar um negócio para gerar um rendimento.

O relatório SDG Reckoning – o ponto da situação sobre os progressos rumo aos ODS

Relativamente à concretização dos ODS, as ambições mundiais não encontram, atualmente, correspondência nas ações empreendidas. No relatório SDG Reckoning, publicado pela nossa empresa-mãe M&G plc, avaliamos os progressos registados no que toca a cada um dos 17 ODS, tanto numa perspetiva geral quanto na ótica do investimento de impacto.

Ler o relatório (em inglês)

Embora apoiemos os ODS da ONU, não estamos associados à ONU e os nossos fundos não são endossados pela ONU.

O valor dos investimentos irá flutuar, o que fará com que os preços diminuam e aumentem. Poderá não recuperar o montante inicialmente investido. As opiniões expressas neste documento não devem ser consideradas como sendo uma recomendação, conselho ou previsão. Não nos é possível dar conselhos financeiros. Caso tenha qualquer dúvida sobre a adequação do seu investimento, deverá falar com o seu consultor financeiro. 

1 Divisão de Estatística da ONU, “Gender equality”, (unstats.un.org), junho de 2023.
2 Fórum Económico Mundial, “Global Gender Gap Report 2023”, (weforum.org), junho de 2023.
3 Fórum Económico Mundial, “Global Gender Gap Report 2023”, (weforum.org), junho de 2023.
4 Base de dados “Education Pathway Analysis” da UNICEF, (data.unicef.org) 2021.
5 Portal de Dados de Género do Banco Mundial, (worldbank.org), novembro de 2023.
6 Moody’s Analytics, “Close the Gender Gap to Unlock Productivity Gains”, (moodysanalytics.com), março de 2023.
7 McKinsey & Company, “Diversity wins: How inclusion matters”, (mckinsey.com), maio de 2020.
8 Nações Unidas, “Securing Women’s Land Rights for Increased Gender Equality, Food Security and Economic Empowerment”, (un.org), junho de 2023.
9 Organização Mundial de Saúde, “Household air pollution and health”, (who.int), novembro de 2022.
10 Organização Mundial de Saúde, “Household air pollution and health”, (who.int), novembro de 2022.
11 Organização Mundial de Saúde, “Household air pollution and health”, (who.int), novembro de 2022.
Por M&G Investments

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